sábado, 20 de novembro de 2010

Um poema de Carlos Drummond de Andrade

Os ombros suportam o mundo
1935 - SENTIMENTO DO MUNDO

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertam ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Declamado brilhantemente pelo Professor Laércio, de Língua Portuguesa, da EENAV hoje no FAC.

3 comentários:

Vanesca Z. D. Helbling disse...

Eu estava em falta contigo... não conseguia acessar o blog por causa da correria. Adorei o poema. Lindo.
Adoro teus textos, e continuo cobrando: espero a publicação do livro!
Beijo.

Sumaia disse...

Cunhada!!
A irmã que não tive... O Teu incentivo é fundamental. Te adoro!

tania disse...

Sumaia hj tirei um tempo para ler teu blog,vc escreve muito bem,adorei todos.Parabens para turma que te convidou para paraninfa,eles sao espertos...porque vc e uma pro dedicada e que ama o que faz.E este poema e lindo.Bjos