sábado, 20 de novembro de 2010

Um poema de Carlos Drummond de Andrade

Os ombros suportam o mundo
1935 - SENTIMENTO DO MUNDO

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertam ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Declamado brilhantemente pelo Professor Laércio, de Língua Portuguesa, da EENAV hoje no FAC.

Nos últimos dias

A Lei Federal número 7398/85 confere autonomia aos estudantes organizarem seus grêmios estudantis como entidades representativas de seus interesses com finalidades educacionais, culturais, cívicas e sociais, portanto a participação do aluno nas instâncias deliberativas é imprescindível e nesse ínterim no dia 11/11 ocorreu a Gincana do Integrado organizada pelo Grêmio Estudantil que com competência, seriedade e criatividade organizou provas muito inteligentes. Foram exitosos os organizadores e participantes, acompanhei somente no turno da manhã, mas foi suficiente para formar a minha opinião.
No dia 17/11, o Integrado participou da competição de lógica denominada Mentes Brilhantes e pelo terceiro ano consecutivo tirou o primeiro lugar comprovando a importância de uma educação de qualidade e do comprometimento das famílias com o futuro dos seus filhos. Parabéns Thereza, Tobias, Arthur, Bibiana, Ernesto e Felipe pelo desempenho e aquisição de mais um troféu para a escola.
Hoje, no turno da manhã deveria estar no AXO numa formação continuada e na EENAV, mas optei pelo Festival Artístico e Cultural (FAC) da EENAV, onde muitos talentos foram revelados e Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade homenageados com a declamação das suas poesias. Foi uma oportunidade de integração que gostei de participar.
Á tarde, no IMD, na Feira Científico Cultural, observei trabalhos de qualidade e o Trabalho de Campo – Um olhar crítico sobre Passo Fundo ofereceu ao público um formato diferente onde agregou pesquisa de campo, multimídia e exposição oral. Os vídeos estavam com qualidade profissional,como uma das professoras responsáveis fiquei gratificada pela seriedade e envolvimento do Segundo Ano.
O final de ano se aproxima e cada escola, de acordo com sua Proposta Pedagógica oportuniza a seus estudantes momentos únicos e indispensáveis que só são possíveis no ambiente escolar.

Dia da Consciência Negra

Escolher um mês do ano para homenagear um povo que foi torturado, vendido no seu próprio continente, escravizado em todos os sentidos da palavra e depois liberto para viver na pobreza e na exclusão me parece só uma forma politicamente correta para aliviar a consciência de um país que foi o último a abolir a escravidão na América.
O racismo se torna evidente também quando se dá cotas para negros entrarem na Universidade em vez de qualificá-los adequadamente para competirem com igualdade numa sociedade elitista.
Esse povo que atravessou o oceano trouxe consigo sua cultura expressa pela dança, canto e religião que conseguiu sobreviver pela capacidade e inteligência de lidar com a adversidade.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Paraninfa da Turma 321 do Integrado

No início do ano, quando expressei que 2010 seria o meu ano, não imaginei que dentre tantos desafios iria receber este carinho e reconhecimento, esse foi o meu sentimento.
Ontem, na Turma 321 do Integrado, recebi a noticia de forma inesperada que seria a paraninfa da turma. No início achei que estavam brincando, quando percebi não se tratar de uma falácia, fiquei assustada e preocupada, esperam de mim uma fala muito peculiar, explico, possuímos uma relação que há olhos comuns é muito incomum. Existe uma reciprocidade de afeto, bem estar e boa relação, expressa por palavras e ações, que só no contexto da sala de aula pode ser entendido, e para alguém mais crítico, jamais será compreendido, sendo mais clara: a minha xícara de água sumia durante as aulas, quando não era partilhada por alguns “falcatruas” , assim como o mapa e material de cima da mesa; virar para o quadro, uma temeridade, algo sempre acontecia. Na última aula, tive que ir ao banheiro com todo o material e ainda no retorno minha mesa tinha sumido, ou melhor, estava escondida entre os grupos.
Alguém de fora, pode fazer muitas leituras, algumas nada favoráveis a meu respeito, mas acredito que educação é interação, existe um currículo oculto, que talvez seja o mais importante, aquele que se estabelece na relação professor alunos, são os exemplos de vida, testemunhos do cotidiano de que se pode ser feliz e como muito bem palestrou a Mãe da Elize, no Interação UPF, a educação deve servir para esperançar , talvez seja isso que nos uniu.
A Turma 321 é inteligente, sagaz, crítica e afetuosa, foi um grande desafio trabalhar com eles, possuem leitura de mundo, cultura formal e também bizarra, quando queriam me enlouquecer na atividade de socialização das notícias. Foi difícil construir essa relação, precisei desenvolver a habilidade de flexibilidade para aceitar as brincadeiras e ao mesmo tempo estabelecer o ambiente necessário para o aprendizado.
Acordei hoje, às 5 horas, com a preocupação do discurso, visto a expectativa deles em relação a minha fala, temo decepcioná-los, esperam uma performance mais descontraída, que me é característica e que pode ser interpretada por colegas, direção e familiares como inapropriada para a solenidade.
Muitas idéias passaram em minha cabeça, mas no momento só posso escrever como forma de extravasar meus sentimentos e ficar arquitetando, como me colocar no discurso, atingindo suas expectativas, com uma fala singular e movida pela emoção, sem ser piegas.
Gostaria de usar dos clássicos infantis dos Irmãos Grimm para semear o sonho, das histórias de mil e uma noites de Zerazade para dizer da importância da esperança e das lendas tribais para contextualizar com a cultura universal, buscando nos quatro cantos do mundo uma forma de dizer MUITO OBRIGADA por ter tido a oportunidade de conviver com Eles e me construir enquanto docente, com mais leveza, mas não com menos sabedoria e conhecimento.

domingo, 7 de novembro de 2010

Festa de Todos os Santos

Hoje a Igreja católica comemora o Dia de Todos os Santos, quem professa essa fé, tem seus santos de devoção. Santos, foram pessoas normais que optaram por seguir a Jesus e sofreram como Ele. Pessoas que com seu testemunho de vida deveriam nos inspirar a sermos seres realmente humanos. Costumo brincar com Mamãe que ela possui consórcio com seus santos, visto a quantidade de solicitações. Brincadeiras a parte, lembro-me de gostar de ler a história dos Santos e a de Joana Darc marcou a minha adolescência. Nossa Senhora Aparecida e o Sagrado Coração de Jesus são meus escolhidos para devoção.
A Santidade é um ideal que pode ser perseguido por qualquer pessoa que queira assumir a proposta de Jesus Cristo. Este para mim um revolucionário e líder com grande poder de persuasão. Hoje carecemos de líderes, observa-se na escola que a formação de lideranças está comprometida e o resultado sente-se no cenário político. Vivemos num mundo individualista e que causas coletivas não agregam seguidores...
Em Mateus 5, 1-14 encontramos as Bem-aventuranças, também conhecidas por Sermão da Montanha com algumas dicas para atingirmos a Santidade:
“Felizes os pobres de espírito, porque deles é o Reino do Céu. Felizes os aflitos, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque possuirão a Terra. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo o tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu, do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês.”
Recomendo a leitura diária de trechos da Bíblia, não existe contra indicação em rezar, agradecer e pedir a Deus diariamente força e coragem para sermos filhos e irmãos em Cristo.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Finados

Acordei, com a lembrança do veredicto da morte do meu Pai, num prazo máximo de dois meses (foram duas semanas) em 1998, ele então com 50 anos. Aquela notícia foi a mais doída e difícil de digerir, até hoje sinto pelas minhas filhas e por ele o convívio que quase não existiu. Passamos juntos a penúltima noite e eu senti a morte, ela estava ali a espreita, esperando para levar meu pai e eu impotente, coube-me rezar e aceitar. Contar para a minha Vó foi uma parte muito difícil e inesquecível. De lá para cá, recorri a leituras como “Perdas Necessárias”, orações e tudo o que me consolasse e me desse respostas.
Em 2001, com a diferença de nem um mês, os Avôs paterno e materno se foram. Minha relação com o Lilino era especial, a ponto de ele me esperar chegar ao hospital para partir, fui eu que escolhi a sua roupa, caixão e com ele fui para Esmeralda no carro funerário, parece mórbido, mas senti-me privilegiada por poder estar com ele naquele momento.
Em 2007, a Vó Cacilda, bem rápido e a duas semanas do Natal, partiu (todos os presentes já estavam comprados, ela era muito preocupada em agradar). No ano passado a Vó Adail, depois de resistir bravamente por anos, partiu.
Senti a morte se aproximando dos Avós Maternos, meses antes dela chegar, não sei se foi intuição ou se criamos uma certa intimidade pela noite que passamos juntas, nas últimas horas de meu Pai. Não tenho medo de morrer, sempre rezo e peço por uma boa hora de morte, medo tenho de sentir dor e ouvir que meus afetos se foram.
Algumas lembranças dos meus Queridos:
- Meu Pai: “Todo mundo gosta de mim, todo mundo me acha bonito”, autoestima não faltava a ele.
- Vó Ariovaldo fazia um gesto característico com a mão para chamar os passantes, adorava estar rodeado de povo.
- Vó Marcelino: “Sou um jovem sobre pernas velhas”.
- Vó Adail “Rezo todos os dias para Você, o Déo e as Meninas."
- Vó Cacilda primeira a ligar nos aniversários e adorava nos receber.
Finado, aquele que se foi, em Esmeralda é assim que os mais velhos se referem aos mortos. Finados, o dia para homenagear os mortos. Tenho uma forma peculiar de pensar e não é no cemitério que encontro meus Queridos, mas nas lembranças do dia a dia, quando reconheço em mim e nos meus, gestos, atitudes e falas que são heranças. Levei muitas flores em vida, mimei e dei amor, hoje rezo com gratidão e procuro cultuar suas memórias, assim nunca serão finados.