terça-feira, 2 de novembro de 2010

Finados

Acordei, com a lembrança do veredicto da morte do meu Pai, num prazo máximo de dois meses (foram duas semanas) em 1998, ele então com 50 anos. Aquela notícia foi a mais doída e difícil de digerir, até hoje sinto pelas minhas filhas e por ele o convívio que quase não existiu. Passamos juntos a penúltima noite e eu senti a morte, ela estava ali a espreita, esperando para levar meu pai e eu impotente, coube-me rezar e aceitar. Contar para a minha Vó foi uma parte muito difícil e inesquecível. De lá para cá, recorri a leituras como “Perdas Necessárias”, orações e tudo o que me consolasse e me desse respostas.
Em 2001, com a diferença de nem um mês, os Avôs paterno e materno se foram. Minha relação com o Lilino era especial, a ponto de ele me esperar chegar ao hospital para partir, fui eu que escolhi a sua roupa, caixão e com ele fui para Esmeralda no carro funerário, parece mórbido, mas senti-me privilegiada por poder estar com ele naquele momento.
Em 2007, a Vó Cacilda, bem rápido e a duas semanas do Natal, partiu (todos os presentes já estavam comprados, ela era muito preocupada em agradar). No ano passado a Vó Adail, depois de resistir bravamente por anos, partiu.
Senti a morte se aproximando dos Avós Maternos, meses antes dela chegar, não sei se foi intuição ou se criamos uma certa intimidade pela noite que passamos juntas, nas últimas horas de meu Pai. Não tenho medo de morrer, sempre rezo e peço por uma boa hora de morte, medo tenho de sentir dor e ouvir que meus afetos se foram.
Algumas lembranças dos meus Queridos:
- Meu Pai: “Todo mundo gosta de mim, todo mundo me acha bonito”, autoestima não faltava a ele.
- Vó Ariovaldo fazia um gesto característico com a mão para chamar os passantes, adorava estar rodeado de povo.
- Vó Marcelino: “Sou um jovem sobre pernas velhas”.
- Vó Adail “Rezo todos os dias para Você, o Déo e as Meninas."
- Vó Cacilda primeira a ligar nos aniversários e adorava nos receber.
Finado, aquele que se foi, em Esmeralda é assim que os mais velhos se referem aos mortos. Finados, o dia para homenagear os mortos. Tenho uma forma peculiar de pensar e não é no cemitério que encontro meus Queridos, mas nas lembranças do dia a dia, quando reconheço em mim e nos meus, gestos, atitudes e falas que são heranças. Levei muitas flores em vida, mimei e dei amor, hoje rezo com gratidão e procuro cultuar suas memórias, assim nunca serão finados.

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