quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Apesar de

Após 40 dias, os primeiros de recuperação pós-cirúrgica e os outros de recuperação de complicações, infelizmente sem explicação médica, hoje estou feliz. Como um simples banho de chuveiro pode ser tão divertido! Uma conquista, diria. Assim como o balbuciar de palavras inteligíveis e a fisioterapia feita por uma ex-aluna que fechou a manhã. Aliás, tenho agora três ex-alunas nos atendendo, esse é um dos ganhos da minha profissão.
Estou aproveitando cada minuto dessa fase para aprender, me conhecer, me reconhecer, me adaptar, mudar conceitos, pré-conceitos e fazer um balanço, afinal, é quase Ano Novo. Cada dia tenho mais convicção de que não são os acontecimentos em si que são decisivos, mas sim a forma como os encaramos.
Assim como tenho uma rede de amigos de fé, convivo com pessoas que achavam que eu iria desmanchar numa situação assim. Tenho imenso prazer em dizer, estou dando conta de TUDO com a mesma competência, comprometimento e amor que conduzo meu trabalho. Este, decisivo nesses dias para me equilibrar e conectar com a minha essência.
Afirmo isso como crítica aos rótulos que se impõem as pessoas como se fôssemos iguais para sempre, como se não houvesse amadurecimento e mudança de paradigmas no decorrer da vida. Estou vivendo uma situação que vejo como é importante a humildade perante a vida, um dia se tem tudo e no outro nada e como reagir? Acho que agir...
“(...) uma das coisas que aprendi é que se deve Apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio Apesar de que nos empurra para frente.” Clarice Lispector.

domingo, 27 de novembro de 2011

A cena

Registro a cena, o cenário e a paisagem que motivaram essa escrita. A cena era linda, a Gi deitada com a cabeça na cama do pai, ele acariciando sua cabeça até ambos dormirem. O cenário era o mural, organizado por mim, a frente da cama,com as fotos das últimas viagens para registrar que essa pessoa hoje acamada tem uma história e uma identidade e por fim a paisagem da noite chegando, era sexta-feira e a semana estava terminando. Da sacada do quarto a vista é linda, dá uma bela aula de Geografia, mas também a possibilidade de ver muito longe, hoje, nossa perspectiva é de no mínimo mais seis semanas de hospital, e o longe é o nosso maior objetivo, de preferência com saúde e qualidade de vida.
Quinta, Dia de Ação de Graças, e lembrado por mim só na missa de sexta, provocou uma interessante reflexão o quanto temos para agradecer do passado, do presente e pedir por um futuro bom.
Voltando a cena, cenário e paisagem senti uma emoção muito grande. Quando há amor, este só aumenta nas dificuldades como uma doença. Quando há lembranças significativas elas só reforçam que vale a pena viver intensamente e quando a paisagem ainda enternece é porque há esperança.
Hoje o Déo está à porta da sacada, vendo um recorte da paisagem e acredito eu que realizando planos de viagens futuras e se fortalecendo para a fase de quimio e radioterapia que inicia amanhã.
Aproveite este domingo maravilhoso!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tempo

Ontem fez um mês que iniciou o processo de cirurgia e recuperação do Déo, isto é, é o quinto final de semana que estamos dentro do hospital. A passagem do tempo aqui é tão diferente do tempo da vida lá fora. Existe uma logística própria, cada setor tem seu tempo e todos precisam cumprir suas atividades e nós, os pacientes e familiares, ficamos a disposição de todos. Com o passar do tempo vamos entendendo e participando ativamente do processo a modo de não atrapalhar e tendo toda a paciência possível, pois o nosso tempo e necessidades dependem do tempo e necessidades de um sistema muito além dos nossos interesses.
Sinto como se a vida tivesse feito um recorte e nós estamos à disposição dos seus caprichos. Olho aqui da sacada as pessoas na rua, seguindo suas vidas, com os passos apressados, com fisionomias preocupadas, outras com roupa de caminhada, todas nos ritmos por si estipulados e nós aqui pacientemente a espera de uma recuperação. De uma coisa tenho certeza, nunca mais seremos os mesmos depois desses dias e dos que virão. A perspectiva é de Natal e Ano Novo aqui dentro e quem sabe quanto tempo mais.
Também é interessante a forma como estou vivendo esse capítulo da minha vida, com calma, paciência, tolerância e muito amor, entrega total, diria que só por Deus para conseguir tamanho equilíbrio.
Tenho experimentado todas as dicas dos muitos livros de auto-ajuda que já li, mais minha orientação espiritual e muita confiança nos desígnios de Deus para nós, tem dado certo.
Boa semana!

Nunca te imagines

Nunca te imagines sem esperança.
Para todas a portas trancadas existem chaves.
Não há problemas sem solução.
... No tempo, todos os impasses se resolvem.
Às vezes, no fundo do abismo escuro é que se pode ver as estrelas.
Não te entregues ao desespero.
Existem dificuldades que acabam sendo equacionadas por si mesmas.
Se te encontras diante de uma encruzilhada e não sabes que direção tomar , espera mais um pouco.
A precipitação é má conselheira.
Para que certos nós se desfaçam, não adianta a tesoura, que corta e dilacera.
Onde a atitude rápida se mostra ineficiente, a paciência é a opção mais sensata.
A lição só termina quando cumpre o papel de ensinar.

Vigiai e orai / Carlos A. Baccelli
Boa semana!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Em tempo

No dia 24/10, dia da cirurgia do Déo, recebi um torpedo carinhoso e inesquecível da Turma 101 do IMD, me dando força. Na mesma semana, encontro embaixo da porta do quarto um bilhete assinado por toda a turma desejando boa recuperação. Galera feliz vocês são demais, obrigado!
Semana passada no CTBM a Turma 103 realizou uma despedida com direito a livro autografado pela turma e a mensagem escrita muito significativa. A Turma 201 a qual era conselheira me deu presente e fala carinhosa. Despedir-me deles foi difícil e triste, espero retornar ano que vem para a Família Tiradentes.
A cirurgia do Déo foi agendada possibilitando que eu deixasse aulas prontas para duas semanas para as vinte e uma turmas das quatro escolas. Forma que encontrei para não prejudicar ninguém e assumir com toda a dedicação a recuperação do meu marido. Como a recuperação está lenta e o hospital me parece será nossa morada por bom tempo tive que reduzir minha carga de trabalho para atendê-lo, emocionalmente está muito difícil conciliar a concentração e dedicação que o trabalho exige com a minha presença no hospital, se pudesse não arredaria o pé nem um minuto daqui.
Não dei detalhes para os alunos do porque da minha ausência, uma forma profissional de não misturar trabalho e vida pessoal. Mas, nas duas escolas houve a mediação de colegas e a ação das turmas para me fazer sentir melhor. Só posso agradecer.
Fica a dica: Sempre que puder faça as pessoas se sentirem importantes não importa a forma, que pode ser muitas, quem recebe lembra para sempre e isso torna relevante a existência.
Bom feriado!

sábado, 12 de novembro de 2011

Morangos

Quando li essa fábula pela primeira vez, há algum tempo, atribuí o sentido para o mundo do trabalho, mesmo utilizando-a para despedidas de terceiros anos, motivando-os para enfrentar a vida com otimismo.
"Um homem, perseguido por leões ferozes, caiu de um desfiladeiro e na queda agarrou-se em arbustos e olhando para cima havia os leões, para baixo, onças famintas aguardava-o, mas ao virar para o lado surpreendeu-se com morangos maduros e apetitosos ao alcance de sua mão.
Vivo essa situação a vinte e três dias, em que o Déo submeteu-se a uma neurocirurgia, apresentou uma boa recuperação, foi para casa, não ficou nem 48 horas e retornou ao hospital no sábado passado por tempo indeterminado, como diz o médico, o tempo necessário.
Hoje o dia está nublado, e é assim que a minha vida se encontra por esses dias, aguardo um raio de sol, quem sabe o Sol inteiro.
Voltando aos morangos, tenho ao alcance da mão muitos, representados pela Família, mesmo bem pequena, muito presente e decisiva nesse momento.
Pelos Amigos próximos e distantes o suficiente para não “incomodar” como eles dizem, mas prontos a qualquer hora para o que der e vier.
Pelos Amigos mais distantes que estão conosco através de telefonemas e mensagens, serão inesquecíveis.
Pelos colegas, uns mais presentes, outros sei que preocupados e juntos na oração que nesse momento tem sido também decisiva.
Pela competente Equipe Médica comprometida e de muita confiança.
Pelas Enfermeiras e Funcionárias do HSVP que com carinho e profissionalismo tornam nossa estada aqui o mais agradável possível diante da situação.
Hoje pela manhã quando saí bem cedo deixei um bilhete para as meninas:“É nas adversidades que se conhece o valor das pessoas”, para validar a atuação e maturidade delas nesse momento.
Tomei hoje talvez a decisão mais importante da minha vida, a de lutar com todos os meios possíveis, visíveis e invisíveis para a recuperação do Déo, com a esperança e determinação de quem tem fé, alegria e otimismo, os dois últimos irritantes talvez para algumas pessoas, mas marca característica da minha personalidade.
Bom Domingo!