segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ele se foi ( Parte I)


Ele: Delmar João Picoli, meu marido há 26 anos e companheiro há 28 , nascido em 28/05/1960 em Marcelino Ramos, falecido em 30/08/2013 em Passo Fundo e sepultado em Esmeralda, no jazigo da minha família por opção.

Mas na verdade sempre seremos Nós...

Partiu discretamente, com a mesma elegância que lhe era característica, no amanhecer do dia 30/08, mais precisamente às 5 horas e 10 minutos, no Hospital da Cidade, na companhia da Vivi, uma enfermeira que nos acompanhou durante toda a doença. Dos seus olhos verteram três lágrimas, uma para cada uma de suas mulheres, e num estremecimento seu espírito abandonou seu corpo emagrecido após trinta dias de hospital, paralisado pelo disseminar da doença, mas não menos bonito.
Foram quase dois anos de luta contra um câncer no cérebro. Fez cirurgia dia 24/11/2011, sofreu um AVC no dia 05/12/2011, teve uma síndrome grave em 28/12/2011, ficou internado por três meses no HSVP onde realizou trinta sessões de quimioterapia e radioterapia. Durante o ano de 2012 fazia  cinco dias de quimioterapia por mês internado no Hospital da Cidade. Realizou fisioterapia e fono até o final, conseguindo caminhar com ajuda, sentar e levantar com autonomia, bem como expressar algumas palavras e gestos.
Nesse período, muitas adaptações foram necessárias para atendê-lo com todo o amor e cuidados merecidos, resultando em nenhum adoecimento durante todo esse tempo. A Giulia deixou o trabalho e a faculdade no ano de 2012 e eu reduzi uma carga de sessenta horas semanais para 16 horas para poder administrar todas as demandas. Contamos com a ajuda de enfermeiras maravilhosas: a Pauline no primeiro semestre de 2011 e após a Marisa durante um ano, pela manhã; nas internações a Vivi e a Eliane de revezavam nas noites;  no último mês, a Vivi, o Jair e a Marisa, juntamente conosco; portanto o meu “guri” recebeu cuidados profissionais e familiares intensos.
No dia 28/12/2012 recebemos a notícia que o tumor havia voltado, que cirurgia não era indicada e que quimioterapia quinzenal era uma alternativa, mas a sobrevida seria de três a sete meses. Eu, que acreditava no milagre da cura e já fazia mil planos, senti naquele dia o peso do fim. Cinco sessões de quimioterapia e o Déo, de forma irredutível, desistiu do tratamento, apoiado pela família e médico.
Assim, vivemos os últimos quatro meses na eminência do fim próximo, mas respeitando o livre-arbítrio dele, que nunca se queixou ou tomou alguma atitude que o desmerecesse. Acolhia a todos com sorrisos, alimentava-se e dormia bem, assistia TV e interagia, acompanhava a construção do prédio a frente com o interesse de um observador da vida. Demonstrava o tempo todo cuidado conosco e com todos ao redor. Realizamos pequenas viagens, passeios, almoços em família, fartos cafés da tarde, recebemos amigos, enfim, aceitamos e construímos nossa vida com todas as limitações da doença.
Até que dia 29/07/2013 internamos sabendo ser a última vez, arrumei aquela mala sabendo ser à última, assim como não haveria volta para casa, nesse dia a morte já nos rondava e como uma velinha, gradativamente, foi se apagando.
Escolheu um dia lindo de Sol para ir embora e, na chegada em Esmeralda, foi brindado pelo pôr do mesmo Sol. Agora esta junto do Vô e da Vó desfrutando de uma paisagem única dos Campos de Cima da Serra, com aquele friozinho típico dos 950 metros de altitude e até com direito a neve anual. Assim Ele escolheu e lá está a sua matéria pois o seu legado está em nós, suas três mulheres.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Vocês são o exemplo do que é o amor, o carinho e o companheirismo. Uma família linda, que sempre soube aproveitar a vida e cultivar o que temos de mais importante: o amor. Amo e admiro muito vocês três, pela força e pela coragem e por mais difícil que estivesse a situação, um sorriso de esperança sempre estava nos seus rostos. Um abraço bem apertado cheio de carinho e admiração, vcs moram no meu coração.

Anônimo disse...

Sumaia, Giulia e Giorgia - nao sei o que dizer. Voces todas - lembro somente da Sumaia, sao realmente um exemplo de vida. Li o depoimento Ele Se Foi - chorei muito. Chorei pela saudade do Delmar - uma pessoa muito ética, um excelente funcionario do CESEC, uma pessoa maravilhosa. Lembro muito bem dele. E, vi agora, que ele sofreu um AVC. Eu também sofri um AVC - mas, graças a Deus, estou muito bem hoje. Tive o AVC, logo depois que o meu ex-marido faleceu - sofri demais. Mas tudo passou. So que agora vejo o quanto pode ser fatal para uma pessoa que sofre o AVC. Como o Delmar deve ter sofrido... Nao... nao sofreu nao. Porque voces estavam junto com ele - dando amor, carinho, muita dedicaçao. Isso, realmente, vale tudo nesta vida. Porque sempre, ele estara junto com voces! Sempre! A parte material esta em Esmeralda. Mas voces, sempre estarao junto com ele, seu legado estara sempre entre voces. Um beijo enorme. Noeli

Sumaia disse...

Olá Noeli!
Obrigada pelas palavras de reconhecimento do quão ético e comprometido foi Delmar em seu trabalho.
Fico feliz em saber que venceu o AVC e teve a chance de começar novamente.
Um abraço na Micheli. Fique em paz!

Sumaia disse...

Olá Noeli!
Obrigada pelas palavras de reconhecimento do quão ético e comprometido foi Delmar em seu trabalho.
Fico feliz em saber que venceu o AVC e teve a chance de começar novamente.
Um abraço na Micheli. Fique em paz!