segunda-feira, 4 de junho de 2012

Milho de pipoca

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza
assombrosas. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira. Não vão se
transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.

Rubem Alves

Extraído do livro: O Amor que Acende a Lua



4 comentários:

Vanesca Z. D. Helbling disse...

Eu adoro este texto do Rubem Alves, e acho ele uma LIÇÃO DE VIDA completa. Ouvi ele pela primeira vez num treinamento motivacional na RBS, e nunca mais esqueci, pois a pessoa que leu entregou para nós alguns "piruás", os milhos que não viram pipocas, os que resistem ainda à transformação do fogo.
Tem uma imagem linda, relacionada a este texto, que vou te mandar por e-mail.
Um, beijo enorme.

Sumaia disse...

Adorei a imagem!Também já havia trabalhado com esse texto há algum tempo...Hoje ele é muito pertinente,só espero virar pipoca,ahaha. Bjo

marcia disse...

Sumaia.
Querida estou com saudades de você , sinto falta da tua força.
Estou me adaptando a nova realizade, sair do meio que estamos acostumados é difícil, mas não impossível.
Acompanho tua luta de longe(presença) mas estou sempre a teu lado ,te admirando ainda mais.Bjs.Marcia

Sumaia disse...

Márcia!
Foi muito bom te encontrar hoje, também sinto saudades das conversas.
Seja muito feliz na nova escola!
Um abraço carinhoso.