segunda-feira, 30 de setembro de 2013


PEQUENOS CÉUS SOMADOS

Arte de Carel Fabritius

O pássaro que voará mais alto é o pássaro que nunca desistiu de puxar a coleira.

Será a ave amarrada pelas patas que não se conformou com o confinamento da gaiola e que toda manhã esticará seu corpo até o máximo.

Até o máximo daquele dia.

Não pode se soltar, mas nem por isso se sentirá preso. Não é livre, mas nem por isso deixará de admirar a possibilidade de flanar.

Se não tem condições de brincar com as árvores, brincará com sua sombra.

Se não tem como brigar pela comida, valorizará o alpiste que recebe em sua tigela quebrando minuciosamente cada grão.

Se não tem vento para expor sua plumagem, baterá as asas para fazer vento em si.

Se não tem o sol na cara, levantará as unhas pelas barras das grades por um punhado de luz.

O pássaro que voará mais alto sempre é o que – enquanto não pode voar – canta, é o que – enquanto não pode subir – caminha, é o que – enquanto não pode planar – afia o bico.

Não reclamará da falta de opção, usará as opções que tem.

Não pode voar, mas treina seu voo esticando a coleira até o máximo. Até o máximo daquele dia.

Puxará a corrente ao limite. Somará pequenos céus com os centímetros de sua corrente.

Tudo o que voará depois será resultado de tudo o que andou em seus limites. Cinco passos repetidos à exaustão darão o condicionamento de quilômetros. Não estará destreinado para as alturas, já que exercitou seu fôlego no chão.

Não desistiu de avançar mesmo com a ausência de espaço. Não se restringiu a uma aparência apagada. Não se encabulou pelo sofrimento.

Quando não havia chance de sair dali, aproveitou a solidão para se conhecer.

Quando não havia com quem conversar, aproveitou o silêncio para afinamentos.

Deveria ser triste pelas suas circunstâncias, porém é feliz pelo temperamento.

Deveria ser melancólico pelo destino, porém é confiante no acaso.

O pássaro que desaparecerá um dia no alto das nuvens, como se fosse mais uma nuvem, foi o pássaro que jamais parou de tentar.

Só voará alto quem carregou suas penas.

Só voará alto aquele que criou seu lugar um pouco por vez, aquele que formou sua virtude em segredo, aquele que não culpou a vida para se manter parado.

Liberdade vem com o tempo, liberdade vem devagar, liberdade é esforço. Não ser do tamanho de nossa prisão, mas ser do tamanho de nossa vontade.
                                                                                                                                 Fabrício Carpinejar

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Julgamentos

Todas as vezes que você julgar, estará errando.
As pessoas já sabem disso.
 Nós sabemos que vocês já sabem o erro do julgamento. Mas, ainda sim, constantemente se perdem em pensamentos tristes, em olhar as pessoas e esperar delas aquilo que é incerto.

 Os relacionamentos humanos, eles são sempre relacionamentos kármicos, com muitos envolvimentos. Então, sempre haverá frustração, quando você olha alguém e espera desse alguém uma reação, uma atitude ou uma palavra.
Se você não quiser se frustrar, deverá aprender esperar menos das pessoas. Não porque elas não possam
lhe dar amor, compaixão, entendimento ou o acolhimento. Mas, porque elas podem não estar abertas. Elas podem não desejar fazer aquilo pra você.
Elas podem ainda, naquele momento, se sentirem magoadas ou tristes e oferecerem a você uma resposta ruim ao ato de amor. Então não julgue, deixe as pessoas seguirem seus próprios caminhos, ainda que vocês convivam... Ainda que estejam juntos na mesma casa, sob o mesmo teto, numa mesma família.
Tornem os seus relacionamentos íntimos mais leves.
Tornem a troca menos necessária.
Façam aquilo que vocês acham que devem fazer.
E não cobrem tanto das outras pessoas.
A cobrança é carregada de julgamentos. E os julgamentos são cobertos e coroados de erros, de arrependimentos, de mágoas, de aflições e de mais karma.

Se vocês querem se libertar e caminhar... e fazer da vida de vocês um lugar mais fácil e mais feliz, não espere tanto das pessoas, não julguem tanto. Olhem as atitudes dos outros com mais complacência e foque em vocês. As pessoas não lhes pertencem.

As atitudes delas, nem sempre são o que são para ofender ou magoar você. Entenda, perceba que as pessoas são como elas são. E, em muitos momentos, limitadas a apenas aquele tipo de atitude, aquele tipo de comportamento, aquela condição errada.
Se você quer ser mais feliz, esteja com você mesmo, se torne seu melhor amigo, se torne a sua melhor amiga, se torne o seu companheiro de todas as horas. E, ao mesmo tempo, olhe as pessoas, ouça com elas. Leve menos a sério as atitudes que você vê pelo mundo. Brinque com a vida, aprenda a sorrir.
O peso do olhar de vocês, carrega de sofrimento e dor, aquilo que os outros fazem.
E mesmo quando não querem, estão julgando.
Se há um coração mais leve batendo no seu peito, você olhará também com mais leveza.
Vocês conhecem a lição dos espelhos.
 Então, ofereçam ao mundo um reflexo mais leve, mais suave...
Se você se sente bem, aquilo que o outro lhe faz não te magoará tanto.
Se você se sente mal, uma atitude ruim, reverberará muito pior em vocês.
 Não permita que isso aconteça.
 Você é um Ser de Luz.
 Você é um Ser de Amor.
 Alivie, aquilo que você pensa de si mesmo.
Alivie, a autocobrança.
Alivie, o desejo do perfeccionismo.
Alivie, a importância que você dá ao que os outros pensam de você.
 Pense você, aquilo que é adequado a si mesmo.
Mergulhe no seu Deus interior e busque nele as respostas.
Você é um Ser de muita Luz. Essa Luz é a Fonte da sua vida.
E quando você se conecta a esta Fonte, se tornará muito, muito, mais feliz.
Deixe de esperar tanto das pessoas.
Deixe de cobrar tanto de si mesmo.
Faça seu caminho de forma mais leve e mais desapegada. E assim você, poderá receber o nosso abraço... O abraço dos seus mentores, todos os dias, porque a sua energia estará mais leve e mais próxima de nós.

Recebam as nossas bênçãos e o nosso amor.
Se sintam cuidados e amados, porque assim vocês são.
Trabalhando na energia da Grande Mãe, Eu Sou Mestra Rowena.
E abençoo vocês, todos os dias.
Meus tímidos Raios Rosa, se mostram quando o dia amanhece e quando o dia se põe.
Um entendimento profundo, de que tudo está em transição e movimento constante.
Então, evoluam na lição do julgamento.
Se tornem mais leves, e pensem em si mesmos e nas pessoas, com mais complacência e doçura.
Sigam o caminho da Luz.
Se tornem Luz e vivam em Paz. 
 
Mestra Rowena
Através de Maria Silvia Orlovas
28/08/2013

                                                                                                                                                                                                                             

domingo, 8 de setembro de 2013

A dor de cada um

Cada pessoa traz consigo uma certa dose de mistério. É o jeito de ser de cada um. São peculiaridades que tornam cada ser humano um ser único: com reações próprias, com especificidades que vão do gosto ao desgosto; do sorrir ao chorar. Na verdade, ninguém é igual a outrem, inclusive na forma de sentir sua própria dor. Existe a dor de cada um!

Todos temos graus diferentes de sensibilidade. Nem sempre os que estão perto de nós entendem as razões e a intensidade de nossa dor. São sentimentos muito íntimos, são experiências muito pessoais.

Aquilo que para alguns pode significar humilhação e tristeza, pode ser interpretado por outros como uma banalidade, uma tolice passageira. Os fatos da vida ganham ou perdem sentido quando afetam a nossa sensibilidade. Por isso mesmo, ainda que haja uma massificação do sofrimento, como ocorre nas tragédias coletivas, ainda assim, existirá a dor de cada um.

Às vezes, numa mesma casa, sob o mesmo teto, um chora e outro ri. Ou, numa mesma cama, sob o mesmo lençol, um dorme em paz e outro agoniza. Daí, conhecer alguém em profundidade é, acima de tudo, procurar entender a voz do coração, que muitas vezes é exteriorizada pela linguagem das lágrimas.

Os relacionamentos mais significativos como: marido e mulher, pais e filhos, amigos e namorados, deixam marcas profundas em nós, inclusive, de sofrimento. Toda relação positiva exige um respeito para com a dor do outro. Esse respeito se dá quando não menosprezamos as lágrimas de alguém, e procuramos entender as razões do seu sofrimento.

A dor de cada um é também a maneira como, individualmente, expressamos nossas frustrações, amarguras, desencantos, perplexidades, tristezas e lamentos. É uma forma bem humana de rejeitarmos as desumanidades. É uma maneira corajosa e verdadeira de revelarmos nossa interioridade.

Estranhamente, a dor é também uma espécie de combustível para a vida. Uma força que nos obriga a olhar sempre para frente, com os olhos da esperança. É o aprendizado, silencioso de quem valoriza suas próprias lágrimas.

As grandes perdas, o luto, as crises agudas, as enfermidades, o término de relacionamentos, as ingratidões, as tragédias, enfim, as experiências dolorosas da vida, acabam injetando em nós vontade de viver, desejo de superação. É a dor como semente de vida.

Na experiência da dor, Deus se revela como amigo fiel, trazendo consolo, proteção e fortaleza. Ele é o socorro bem presente na angústia . Por ser o Pai de todos, Ele está sempre presente na dor de cada um!

                                                        Estevam Fernando de Oliveira

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ele se foi ( Parte I)


Ele: Delmar João Picoli, meu marido há 26 anos e companheiro há 28 , nascido em 28/05/1960 em Marcelino Ramos, falecido em 30/08/2013 em Passo Fundo e sepultado em Esmeralda, no jazigo da minha família por opção.

Mas na verdade sempre seremos Nós...

Partiu discretamente, com a mesma elegância que lhe era característica, no amanhecer do dia 30/08, mais precisamente às 5 horas e 10 minutos, no Hospital da Cidade, na companhia da Vivi, uma enfermeira que nos acompanhou durante toda a doença. Dos seus olhos verteram três lágrimas, uma para cada uma de suas mulheres, e num estremecimento seu espírito abandonou seu corpo emagrecido após trinta dias de hospital, paralisado pelo disseminar da doença, mas não menos bonito.
Foram quase dois anos de luta contra um câncer no cérebro. Fez cirurgia dia 24/11/2011, sofreu um AVC no dia 05/12/2011, teve uma síndrome grave em 28/12/2011, ficou internado por três meses no HSVP onde realizou trinta sessões de quimioterapia e radioterapia. Durante o ano de 2012 fazia  cinco dias de quimioterapia por mês internado no Hospital da Cidade. Realizou fisioterapia e fono até o final, conseguindo caminhar com ajuda, sentar e levantar com autonomia, bem como expressar algumas palavras e gestos.
Nesse período, muitas adaptações foram necessárias para atendê-lo com todo o amor e cuidados merecidos, resultando em nenhum adoecimento durante todo esse tempo. A Giulia deixou o trabalho e a faculdade no ano de 2012 e eu reduzi uma carga de sessenta horas semanais para 16 horas para poder administrar todas as demandas. Contamos com a ajuda de enfermeiras maravilhosas: a Pauline no primeiro semestre de 2011 e após a Marisa durante um ano, pela manhã; nas internações a Vivi e a Eliane de revezavam nas noites;  no último mês, a Vivi, o Jair e a Marisa, juntamente conosco; portanto o meu “guri” recebeu cuidados profissionais e familiares intensos.
No dia 28/12/2012 recebemos a notícia que o tumor havia voltado, que cirurgia não era indicada e que quimioterapia quinzenal era uma alternativa, mas a sobrevida seria de três a sete meses. Eu, que acreditava no milagre da cura e já fazia mil planos, senti naquele dia o peso do fim. Cinco sessões de quimioterapia e o Déo, de forma irredutível, desistiu do tratamento, apoiado pela família e médico.
Assim, vivemos os últimos quatro meses na eminência do fim próximo, mas respeitando o livre-arbítrio dele, que nunca se queixou ou tomou alguma atitude que o desmerecesse. Acolhia a todos com sorrisos, alimentava-se e dormia bem, assistia TV e interagia, acompanhava a construção do prédio a frente com o interesse de um observador da vida. Demonstrava o tempo todo cuidado conosco e com todos ao redor. Realizamos pequenas viagens, passeios, almoços em família, fartos cafés da tarde, recebemos amigos, enfim, aceitamos e construímos nossa vida com todas as limitações da doença.
Até que dia 29/07/2013 internamos sabendo ser a última vez, arrumei aquela mala sabendo ser à última, assim como não haveria volta para casa, nesse dia a morte já nos rondava e como uma velinha, gradativamente, foi se apagando.
Escolheu um dia lindo de Sol para ir embora e, na chegada em Esmeralda, foi brindado pelo pôr do mesmo Sol. Agora esta junto do Vô e da Vó desfrutando de uma paisagem única dos Campos de Cima da Serra, com aquele friozinho típico dos 950 metros de altitude e até com direito a neve anual. Assim Ele escolheu e lá está a sua matéria pois o seu legado está em nós, suas três mulheres.